A Corte se prepara para mais um mega-evento. A Baronesa está prestes a completar 102 anos e a ocasião promete ser especial. Músicos, convidados de gala, enfeites, e muita disposição dos organizadores. O Baile de Máscaras promete entrar para a história naquele Reino.
O fato de a Baronesa não estar tão lúcida não parece ser empecilho algum. A Corte precisa tanto deste Baile que nada parece empecilho. Nem a vida, nem a morte. Nem a saúde, nem a doença. Nem a alegria, nem a tristeza. Nem a verdade, nem a mentira.
Os preparativos são, como sempre, conturbados. Alguns convidados fazem questão de confundir os anfitriões, com incertezas quanto a sua presença. Outros convidados mostram uma incomum empolgação com o Baile, como se estivessem na mesma situação dos anfitriões: ambicionados por máscaras. Mas o transtorno maior se dá por conta da figura dos aproveitadores, que sempre arrumam uma forma de se sagrarem como os anfitriões oficiais do Baile. Enquanto isso, existe a figura do aproveitado, que é o grande patrocinador da Corte, mas que não leva crédito algum por isso, sendo tratado como um mero serviçal, durante o Baile (e durante os outros dias do ano, também).
Mesmo assim, os membros da Corte necessitam de eventos desse tipo para se ausentarem, mesmo que por uma noite, de suas vidas. Para eles, é muito difícil encarar a própria face, diante do espelho. Precisam se esconder por trás de máscaras, e nada como um Baile, onde tais acessórios são mais do que convenientes. E, por falar em conveniência...
Existe um duelo de egos na Corte: existe vaidade, inveja e ira. Na verdade, tudo não passa de uma espécie de competição por liderança sem fundamento algum e, conseqüentemente, sem vencedores. Mas é necessário passar uma imagem maquiada da realidade para se conquistar o apoio popular. Sem as máscaras, a Corte não parece tão bela, assim.
Pelo contrário: por trás de todo o luxo dos Bailes, por trás de cada obra de arte recém-chegada ao palácio, está o lixo e a degradação dessa Corte falida. A falta de respeito escancarada não é tão interessante quanto o salão enfeitado, e não é tão atraente quanto os sorrisos dos mascarados. O falso moralismo e a hipocrisia até conseguem lotar um salão, mas não garantem a limpeza do mesmo, depois do Baile.
O dia seguinte ao Baile é muito doloroso. Depois da falsa felicidade estampada e auxiliada por cálices de cristal, vem o marasmo, e a dificuldade em voltar a viver suas patéticas vidas. Há quem contabilize os prejuízos, há quem prefira se esquivar de tudo (talvez por vergonha), e há quem comece a arquitetar o próximo Baile.
Qualquer semelhança, não é mera coincidência.
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