terça-feira, 4 de janeiro de 2011

QUANDO A PALHAÇADA NÃO TEM GRAÇA

Devo confessar uma coisa para vocês: Eu nunca fui muito fã de palhaços. Lembro de ter ido a alguns circos e ter me encantado com o mágico, com o globo da morte, com a trapezista...

Mas respeito os palhaços. Não são muito de me fazer rir, mas eu respeito. Pra não dizer que estou mentindo, acho que a única vez que um palhaço me fez rir foi quando eu tinha uns sete anos. Era um circo pequeno, e os palhaços fizeram uma brincadeira e começaram a jogar coisas um no outro. Acontece que um galão vazio de tinta atingiu a cabeça de uma mulher que estava na plateia. Isso não foi engraçado. Engraçado foi ver o palhaço, com aquela roupa toda extravagante e aquela maquiagem alegre, pedindo desculpas, todo “sem graça”, quase chorando. Eu gargalhei. Sei que é puro sadismo, mas... Gente, eu só tinha sete anos, ok?

Mesmo assim, repito: eu respeito os palhaços. Mas eles tinham que sair do picadeiro para assombrar a gente em outros lugares? Palhaçada tem hora e lugar. Eu me lembro daquele filme, “Palhaços Assassinos”, onde os palhaços eram alienígenas, a nave deles era um circo, e eles transformavam suas vítimas em algodão doce. Qualquer criança que curte palhaços mudaria de opinião após ver esse filme.

Seria cômico, se não fosse trágico. Com mais de 1 milhão de votos, um palhaço foi eleito Deputado Federal. Isso, pra mim, não significaria nada, se o mesmo não tivesse deixado claro nem saber das funções de um deputado. Isso, pra mim, não significaria nada, se o mesmo não tivesse feito tanta piada com coisa tão séria. Isso, pra mim, não significaria nada, se o mesmo, ao menos, tivesse experiência, por menor que fosse. Enfim, isso não significaria nada, se a maioria das pessoas que votaram nele não votasse por protesto ou por simples falta de consciência política.

Lamento muito por isso. Nada contra o referido deputado eleito: ele sabe fazer graça. Nem vou entrar no mérito sobre a alfabetização do mesmo. O que acontece é que, após 22 anos de conquista da “plena Democracia”, ainda não aprendemos nada. Na verdade, temos uma arma nas mãos, e não sabemos como usá-la. Por isso, vivemos dando tiro no próprio pé.

Quando eu digo “nós”, não me refiro apenas aos eleitores. Eu não esqueço que todo político também é eleitor. E, muitas pessoas que, hoje, são apenas eleitores, pretendem seguir uma carreira política.

Carreira? Dessas onde existe promoção, gratificação, aposentadoria? Sim. A função do político deixou de ser uma ocupação e, hoje, tende a ser uma profissão. Só que os políticos não se profissionalizam. Já ouvi o argumento de que um deputado, por exemplo, “não faz nada e ganha muito bem pra isso”. Eu concordo, mas... vai ficar por isso mesmo? Vamos abaixar a cabeça e dançar conforme essa música desafinada?

Eu sou do tipo que acredita que, para se candidatar a algum cargo político, a pessoa deveria fazer um curso. Como muitos brasileiros adoram estudar, creio que reduziria bastante a demanda. E, como muitos brasileiros adoram trabalhar, se for estabelecido avaliação de desempenho só sobraria mesmo os políticos mais dedicados. Muita gente fugiria da vida política. Que bom seria...

E dedicação é a palavra-chave. A função do político seria belíssima, se não fosse tão deturpada. Abdicar de si em prol da coletividade é divino. Mas quem faz isso? Desculpem os políticos honestos, mas vocês são como duendes: eu nunca vi, mas, que existem, existem. Eu vejo boas intenções, boas ideias, e até bons feitos, mas não ponho a mão no fogo por ninguém.

Por exemplo, é só ver a lista dos deputados que votaram a favor do absurdo aumento de 62% de sua remuneração. Muitos dessa lista até que me enganaram direitinho. Por que o trabalhador não vê esse mesmo aumento no chamado salário mínimo? Por falar em trabalhador, por que, ao ver coerentes manifestações contrárias a este aumento abusivo, há quem diga que “o trabalhador não tem nada a ver com isso"? E, finalmente, por que os palhaços de gravata aprontaram essa piadinha de mau gosto logo agora, que a eleição já passou?

Como eu disse, palhaçada tem hora e lugar. E, pra que acha que o Congresso Nacional já virou um picadeiro e, mais um ou menos um palhaço por lá, não faria diferença alguma, um conselho: cuidado, pois o grande palhaço dessa estória pode ser você.

Voltando ao palhaço citado... Aquele mesmo, de mais de 1 milhão de votos... Sabe o que ele acha desse aumento de 62%? “Legal” e “bacana”. Joguem uma torta na minha cara, por favor!

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