quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

DE FRENTE AO ESPELHO

Detesto mesmo admitir. Por mais que eu possa vir a envergonhar minha família, vou fazer uma confissão: Eu adoro Reality Show.

Sim, cambada. Acompanho desde a primeira edição de Casa dos Artistas. Aquela mesma, do tempo em que o Alexandre Frota ainda não era ator pornô. Pra falar a verdade, a grande sacanagem daquele programa foi a saída dele. Sim, ele desistiu, mas, atendendo ao apelo do Sílvio Santos, voltou, cheio de informações externas. Como o público brasileiro não entendia muito bem “esse tal de reality show”, aquele ato foi visto com graça e até hoje é lembrado como um ponto forte do programa. Não adiantou muito, pois o cara foi eliminado logo após, mesmo sendo o protagonista do reality.

Mas o que é mais atrativo num reality? O que faria o público se entreter, perder o tempo votando, assistindo, discutindo, brigando via net? Para mim, é justamente a espontaneidade na complexidade das relações. Nossa... Falei feito um mala. Mas vou explicar.

Um reality show é feito uma gaiola, onde o cientista coloca alguns ratinhos e fica observando o comportamento. Como eles reagiriam à falta de água? Como reagiriam á divisão em grupos? Quem se relacionaria com quem? Quem mataria quem? Mas o mais divertido é que os pobres ratinhos vivem com a ideia de que ELES é que são os cientistas. Pobrezinhos...

No confinamento, os participantes estão sujeitos a todo tipo de fragilidade. A saudade chega sem avisar, a falta de informação traz a angústia. Mas o pior de tudo é justamente o convívio com as diferenças. Como humanos, somos extremamente egoístas. Cada um no seu quadrado é o lema. Mas o que fazer quando o quadrado é um só para todos?

A primeira atitude a ser tomada é bem nobre: Jamais subestimar o maior jogador de todos, ou seja, o público. Muitos que entraram encarando o jogo meramente estratégico se perderam nos detalhes. Quem encarou como jogo de força física, tipo “American Gladiators” (quem se lembra disso?), também não passou no teste.

O fato é que todo participante conquista um público. Uns mais, outros menos. Até aqueles que fazem tudo errado são dignos de fã clube via internet (mesmo que seja um sombrio fã clube de dois integrantes). Mas o maior público, geralmente, é o dos que rejeitam. Mesmo assim, dificilmente, um "azarão" conseguiria levar o prêmio. É difícil desbancar os favoritos e, quando o telespectador fica embabacado, não há Cristo que desbanque o "queridinho da galera".

Para quem não assiste, não gosta do programa e não entende nada que eu esteja escrevendo, o melhor jogador é aquele que transforma a casa num cenário. Polêmico, divertido, espalhafatoso... Esse, sim, é o verdadeiro merecedor. Ele dá audiência. Mesmo?

Pura idiotice. O mais atraente é o participante que se expõe, errando ou acertando, mergulhando intensivamente no quesito convivência, no quesito relacionamento humano. É isso que gera tanta discussão do lado de fora do confinamento, resultando na bendita relação de amor e ódio. Consequentemente, isso dá IBOPE!

Mas essa exposição se transforma numa faca de dois gumes quando o participante força a barra e abusa do sentimentalismo. E brasileiro adora uma tristeza... Faz parte da nossa cultura o "pobre-coitadismo".

Enfim, para quem torce o nariz para esse estilo de programa, peço que analisem com calma esse “grandioso espelho de nós mesmos”. Sei que, muitas vezes, a imagem refletida não vai nos agradar e, por defesa, vamos disfarçar e fingir que aqueles não somos nós.

Mas, mesmo assim, devemos encarar de frente esse bendito espelho para, quem sabe, conseguirmos enxergar nossas fraquezas e nossas limitações. E, talvez, valorizarmos um pouco mais as relações humanas... Fica a dica.

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