Seria cômico, se não fosse
trágico. O Big Brother Brasil virou uma mal traçada caricatura do que sempre
foi. Desde os primórdios, a essência do Reality Show estava na incontrolável
necessidade das pessoas aparecerem, mesmo que por meros dois minutos, mesmo que
seu momento de estrelato se resuma a uma simples escovação de dentes.
Mas o diferencial do programa
não eram as pessoas se acotovelando por trás da vitrine, feito cachorrinhos
implorando pela atenção dos transeuntes. O que sempre marcou, e despertou a
curiosidade de muitas pessoas, inclusive estudiosos sobre o comportamento
humano, foi justamente o lado humano das pessoas... Ver as pessoas em carne
viva, sem rótulos, nem disfarces, em uma situação totalmente adversa. Desde o
bobalhão que chora por causa de uma boneca, até o brutamonte expondo seus
fantasmas culturais travestidos de preconceito; desde a menininha que se
defende com o escudo de mulher objeto, ou até o gay que, minimizado pela
sociedade incriminadora, se sente gigante numa oportunidade única de “defender
uma causa”, que nem mesmo sabe qual é.
Mas é isso que torna o projeto
interessante. O povo questionador decreta sentenças feito juiz, acusa feito promotor,
defende feito advogado... Torce, esbraveja, com toda a parcialidade comum
perante os mortais, se rebela quando as coisas não saem do seu agrado, celebram
quando acontece o esperado. Dedicam horas ao programa, defendendo aquele que
não conhece, acusando aquele que conhece menos ainda. Mas nem isso tem sido
relevante hoje em dia.
O próprio público, adorador do
ser humano que habita cada competidor, acabou distorcendo a ideia inicial.
Alguns comentaristas que pouco assistem ao programa começaram com esse
manifesto: buscando situações inusitadas nos jogadores, para justificarem a
permanência. O público, sempre influenciável, passou a ser esse, do tipo: “se
Fulano sair, o programa perde a graça”.
Entendo que, um participante
apagado, seja pela edição, ou por sua personalidade, não é atraente sob nenhum
aspecto. Mas também entendo que uma edição pode, sim, elevar ou derrubar um
participante. Antes, eu não acreditava nisso, mas, depois de algumas edições,
penso o contrário. A produção pode criar situações que podem beneficiar ou
prejudicar concorrentes. Muitas vezes, aleatoriamente. De repente, um Big Fone
pode tornar o mais apagado participante em herói ou vilão. Para isso, depende
do poder de decisão da pessoa.
Fora alguns casos em que um
participante sem chances de vencer o jogo acaba se fortalecendo por causa dos
outros participantes. Mas isso não seria um fator catastrófico. O preocupante
são as situações forçadas, que tanto agrada a audiência. Mas, ao mesmo tempo
que seduz, engana. E não adianta o discurso de que o jogo é pra ser jogado,
pois pouco se sabe sobre o jogo em si; o exemplo disso está nessa edição, onde
dois antigos vencedores não souberam sobreviver ao jogo.
E, dessas situações inusitadas,
que tornam o BBB mais uma novela da Globo, com personagens fictícios, situações
armadas, heróis e vilões, só nos resta a saudade do que um dia o programa
parecia ser: um reality show.
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