quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

E Lá Vamos Nós


                Seria cômico, se não fosse trágico. O Big Brother Brasil virou uma mal traçada caricatura do que sempre foi. Desde os primórdios, a essência do Reality Show estava na incontrolável necessidade das pessoas aparecerem, mesmo que por meros dois minutos, mesmo que seu momento de estrelato se resuma a uma simples escovação de dentes.
                Mas o diferencial do programa não eram as pessoas se acotovelando por trás da vitrine, feito cachorrinhos implorando pela atenção dos transeuntes. O que sempre marcou, e despertou a curiosidade de muitas pessoas, inclusive estudiosos sobre o comportamento humano, foi justamente o lado humano das pessoas... Ver as pessoas em carne viva, sem rótulos, nem disfarces, em uma situação totalmente adversa. Desde o bobalhão que chora por causa de uma boneca, até o brutamonte expondo seus fantasmas culturais travestidos de preconceito; desde a menininha que se defende com o escudo de mulher objeto, ou até o gay que, minimizado pela sociedade incriminadora, se sente gigante numa oportunidade única de “defender uma causa”, que nem mesmo sabe qual é.
                Mas é isso que torna o projeto interessante. O povo questionador decreta sentenças feito juiz, acusa feito promotor, defende feito advogado... Torce, esbraveja, com toda a parcialidade comum perante os mortais, se rebela quando as coisas não saem do seu agrado, celebram quando acontece o esperado. Dedicam horas ao programa, defendendo aquele que não conhece, acusando aquele que conhece menos ainda. Mas nem isso tem sido relevante hoje em dia.
                O próprio público, adorador do ser humano que habita cada competidor, acabou distorcendo a ideia inicial. Alguns comentaristas que pouco assistem ao programa começaram com esse manifesto: buscando situações inusitadas nos jogadores, para justificarem a permanência. O público, sempre influenciável, passou a ser esse, do tipo: “se Fulano sair, o programa perde a graça”.
                Entendo que, um participante apagado, seja pela edição, ou por sua personalidade, não é atraente sob nenhum aspecto. Mas também entendo que uma edição pode, sim, elevar ou derrubar um participante. Antes, eu não acreditava nisso, mas, depois de algumas edições, penso o contrário. A produção pode criar situações que podem beneficiar ou prejudicar concorrentes. Muitas vezes, aleatoriamente. De repente, um Big Fone pode tornar o mais apagado participante em herói ou vilão. Para isso, depende do poder de decisão da pessoa.
                Fora alguns casos em que um participante sem chances de vencer o jogo acaba se fortalecendo por causa dos outros participantes. Mas isso não seria um fator catastrófico. O preocupante são as situações forçadas, que tanto agrada a audiência. Mas, ao mesmo tempo que seduz, engana. E não adianta o discurso de que o jogo é pra ser jogado, pois pouco se sabe sobre o jogo em si; o exemplo disso está nessa edição, onde dois antigos vencedores não souberam sobreviver ao jogo.
                E, dessas situações inusitadas, que tornam o BBB mais uma novela da Globo, com personagens fictícios, situações armadas, heróis e vilões, só nos resta a saudade do que um dia o programa parecia ser: um reality show.

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